terça-feira, novembro 11, 2008

O PAPEL DO ENFERMEIRO

Cada dia que passa tenho-me debruçado sobre muitos temas da enfermagem que me interessam e sobre os quais tenho curiosidade e um dos temas que me suscitam mais curiosidade é o Pânico pré-alta, ou seja todos os agravamentos que aparecem num doente/família quando se avizinha uma alta, após um internamento de longa duração. O que será que se passa, para o doente que uma vez estabilizado, de repente não se sente preparado para ir para sua casa, quando muitas vezes numa fase inicial, recusou o internamento, quis mesmo antecipar a alta e agora não se sente preparado... Onde foi que falhamos? Médicos, Enfermeiros, Assistentes sociais, Psicólogo,...? Será que falhamos? No meu caso trabalho num serviço de reabilitação. As pessoas entram para se adaptarem a uma limitação da mobilidade. No início o desânimo e a imagem do que eram e de como estão é demasiado forte para que possam pensar em viver o dia-a-dia, de outra forma. Sentem-se inúteis, incapazes, deficientes, sei lá. Renitentes começam a ouvir exemplos de sucesso, de evoluções favoráveis em casos parecidos com o seu e ao longo da primeira semana o ginásio e a recuperação fisica a 100% torna-se uma obsessão. Todo o tempo é pouco para trabalhar articulações, músculos e tendões. Recuperam o apetite e a vontade de viver!Nadam, pedalam, jogam, treinam...Depois começam a lidar aos poucos com as limitações que os vão acompanhar para o resto da vida. A Equipa Multi disciplinar estuda e determina que alterações são necessárias fazer na habitação e de que ajudas técnicas precisam para tornar mais fácil o dia-a-dia de toda a família. O psicólogo dá uma ajuda nos momentos de confronto com a nova realidade... E o Enfermeiro? Qual o Papel do enfermeiro? O enfermeiro colabora activamente no processo de reconstrução desta nova pessoa que renasce durante o internamento. Ao Enfermeiro compete conciliar a reabilitação física, com a psicológica, a social e, muitas vezes a familiar e profissional. Esta Missão não se consegue levar a bom porto com protecções exageradas do doente, nem com a omissão do que é a realidade de uma pessoa com défice de mobilidade. Temos que lhe mostrar um leque abrangente de profissões que se encaixem na sua limitação, ajudar a bater ás portas certas, mostrar-lhe as dificuldades de andar nas ruas deste país, mostrar como enfrentar os olhares e os dedos apontados... Apoiar e ouvir os medos de quem cuida e de quem é cuidado. Conseguindo detectar e dar seguimento e resposta ás dúvidas e aos receios e ás vergonhas... Eu acho que o Enfermeiro tem a cola especial para reconstruir as bases desta nova pessoa porque é com o enfermeiro que o doente fala nas noites de insónia, mães de todos os medos, é com o enfermeiro que os familiares desabafam após a visita de Domingo, é o enfermeiro que entretém os filhotes enquanto os pais reaprendem a namorar... Pode parecer pouco para quem apenas é técnico de enfermagem, porque isto não se aprende só nos livros, isto é um trabalho feito com o coração de um ser humano que se dedica a outro ser humano. Para mim é isto que é Ser Enfermeiro!

sexta-feira, outubro 24, 2008

Sobre a DOR... Para reflectir

A DOR… Por: Pablo Neruda Assim se forma uma alma rarefeita: com espelho, com ninguém, com retrato, sem homens, sem Partido, sem verdade, com sussurro, com ciúmes, com distância, sem companheiro, sem razão, sem canto, com armas, com silêncio, com papéis, sem povo, sem consulta, sem sorriso, com espias, com sombras e com sangue, sem França, sem Itália, sem os cravos, com Bérias, com sarcófagos, com mortos, sem comunicção, sem alegria, com mentirosos, com látegos e línguas, sem comunicação, sem alegria, com a imposição e com a crueldade, sem saber quando cortam a madeira, com a soberba triste, com a cólera, sem compartir o pão e a alegria, com mais e mais e mais e mais e mais e sem ninguém, e sem ninguém, sem nenhum, com as portas fechadas e com muros, e sem o povo de suas padarias, e com cordéis, com nós e com ausência, sem mão aberta, sem flor evidente, com as metralhadoras, com soldados, sem a contradição, sem a consciência, com desterro, com frio e com inferno, sem ti, sem alma, só, e com a morte.

quarta-feira, outubro 22, 2008

ACORDAR DIFERENTE...

ACORDAR DIFERENTE… Quando era pequena de noite muitas vezes passeava pela casa de olhos fechados, tentava perceber as dificuldades que uma pessoa invisual sentia… Não sentia isso como uma brincadeira, mas como um teste de memória e orientação que considerava muito interessante. Por vezes, tinha também um sonho em que acordava e não conseguir mexer-me… Acordava em pânico e com uma respiração ofegante. Penso que sempre tive uma necessidade enorme de tentar colocar-me no lugar do outro, do outro que não vê, que não houve, que não sente, que não fala, que tem dores, que está doente, enfim, DO OUTRO! Talvez por isso, decidi ser enfermeira. Porque sabia que podia fazer este exercício, essencial à profissão de enfermagem. Um jovem de 30 anos, saudável, desportista, um dia tem um acidente de automóvel ficando tetraplégico, após alguns meses de cuidados intensivos, vem para o serviço onde trabalho. É um jovem adulto bem-humorado, calmo e muito observador e um dia surpreende-me com uma simples frase: _ Sabe enfermeira, sinto que o que me aconteceu, foi a melhor experiência que tive na vida! Ainda hoje estou a tentar digerir esta frase.